O ataque de Israel contra o Irã provocou uma disparada nas cotações do petróleo e do gás. Em poucas horas os preços do petróleo bruto subiram 13%, com um pico de US$ 78,5 o barril de Brent, recorde dos últimos cinco meses.

Ao final da sessão desta sexta-feira, 13, o índice de referência ainda era negociado acima de US$ 74, uma alta de quase 6%, devido ao medo de uma escalada no conflito no Oriente Médio. Mas também — e talvez acima de tudo — as preocupações sobre a segurança das rotas de abastecimento.
O Reino Unido e a Grécia recomendaram que suas frotas mercantes evitassem transitar pelo Golfo de Áden e solicitaram que relatassem detalhadamente a presença de navios no Estreito de Ormuz, aquele trecho de mar na foz do Golfo Pérsico, entre o Irã e Omã, que é uma das encruzilhadas mais vitais do planeta para o transporte de hidrocarbonetos e constantemente no risco de bloqueios por parte de Teerã. Algo que já foi ameaçado diversas vezes no ado, mas nunca foi efetivamente colocado em prática.
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Mais de um quarto do fornecimento global de petróleo marítimo — incluindo petróleo bruto e derivados — e um quinto de todas as exportações de gás natural liquefeito am por Ormuz, fluindo principalmente entre o Catar e a Ásia.
Preço do gás também disparou
Os preços do gás também começaram a subir rapidamente, chegando a € 38,28 por megawatt-hora no TTF, o principal Bolsa de Valores europeia. Maior alta dos últimos dois meses, antes de fechar em 37,55 euros (+3,8%). Nos Estados Unidos, os contratos futuros com vencimento para julho deste ano fecharam também em alta de 3,29%.
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A preocupação dos analistas é sobre o surgimento de possíveis obstáculos às exportações de GNL do Catar, o principal fornecedor mundial depois dos EUA, com quase 20% do mercado e nenhuma rota de transporte que possa evitar o Estreito de Ormuz.
Em caso de bloqueio do estreito, segundo o Rabobank, o preço do gás poderia subir para 100 euros/MWh.
Preocupações com o petróleo
Preocupações semelhantes se aplicam ao petróleo. O Irã — embora tenha sido alvo de sanções ocidentais por anos — é um fornecedor muito importante de petróleo bruto. Estima-se que, atualmente, extraia 3,3 milhões de barris por dia, cerca de 3% da produção global, e que exporte 1,7 mbd (ou 2,1 mbd incluindo derivados). A maior parte vai para a China. Todavia, se o fornecimento acabar, Pequim terá que buscar energia em outro lugar.
Segundo o JP Morgan, o preço do petróleo subiria para US$ 120-130 por barril no pior cenário: um fechamento total do Estreito de Ormuz ou ataques diretos à infraestrutura petrolífera. Um acontecimento que também não pode ser descartado.
Até o momento, não há relatos de que as forças israelenses tenham danificado instalações de petróleo e gás iranianas, mas isso não significa que isso não ocorrerá nos próximos dias. E a própria República Islâmica poderia, por sua vez, atacar instalações importantes na região.
Existe a suspeita que Teerã possa ter instigado o ataque com mísseis que destruiu as instalações petrolíferas sauditas em Abqaiq e Khurais em setembro de 2019.
Os terroristas iemenitas do grupo Houthi, que vêm atacando navios no Mar Vermelho há quase dois anos, bloqueando o trânsito de mercadorias via Suez, também contam com apoio iraniano.
Riscos para o Estreito de Ormuz
Bloquear a navegação no Estreito de Ormuz seria uma medida drástica, que o próprio governo iraniano desejaria evitar, para não atrair retaliações graves, com o possível envolvimento direto dos EUA. Todavia, mesmo ações disruptivas simples podem ter consequências graves para o fornecimento de hidrocarbonetos.
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A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos aumentaram o transporte por oleodutos nos últimos anos. Mas mesmo que parte do fluxo de petróleo fosse desviado para evitar o Estreito de Ormuz, ainda haveria 14 milhões de barris por dia em risco.
Segundo um relatório da seguradora holandesa ING, “uma interrupção significativa nesses fluxos seria suficiente para elevar os preços para US$ 120 o barril e, se isso persistir até o final do ano, poderemos ver o Brent atingir novas máximas, acima do recorde de quase US$ 150 em 2008”.
O alarme parece ser bastante real desta vez. Um número crescente de navios está optando por ficar longe do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico. Desde quarta-feira 11, dois dias antes do ataque israelense, a autoridade marítima britânica, UKMTO, emitiu um alerta sobre “o aumento das tensões na região, que poderia levar a uma escalada da atividade militar, com impacto direto sobre os marinheiros”.
“Os navios são aconselhados a cruzar o Golfo Pérsico, o Golfo de Omã e o Estreito de Ormuz com cautela”, informou a UKMTO.
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