Congresso Nacional, em Brasília | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Edição 263

Carta ao Leitor — Edição 263

Os presos enfermos do 8 de janeiro e a vacinação obrigatória contra a covid-19 de crianças com menos de 5 anos de idade estão entre os destaques desta edição

Há quase seis anos o Congresso contempla com olhar bovino a punição de parlamentares por discursos no plenário ou a prisão de alguns pelo inexistente crime de opinião. Também assistem sem espanto ao avesso das coisas. Decisões do Poder encarregado de legislar são modificadas pelo Poder encarregado de defender o cumprimento das leis. 

Neste momento, os deputados federais têm outra chance de frear a escalada autoritária promovida pelo consórcio Lula-STF e reconquistar a confiança da sociedade. A reportagem de capa desta edição, assinada por Silvio Navarro, mostra que Hugo Motta tem de escolher imediatamente o caminho que pretende seguir.

Para eleger-se presidente da Câmara com o apoio da oposição, ele prometeu colocar em votação o projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro. Há poucos dias, mudou de opinião. Depois de um jantar na casa de Alexandre de Moraes, em companhia de outros ministros, Motta leu um confuso discurso no plenário em que negou a existência de perseguidos, exilados políticos e castigados por crime de opinião.

Nesta quarta-feira, 2 de abril, o presidente da Câmara recebeu em mãos um dossiê divulgado pela Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro. Entre outros abusos e violências, o documento detalha casos de presos políticos que necessitam de tratamento médico urgente. São pelo menos 20, como demonstra a reportagem de Cristyan Costa.

Uma dessas vítimas é o professor aposentado Jaime Junkes, de 69 anos, que luta contra um câncer de próstata em estágio avançado. Junkes conseguiu o benefício da prisão domiciliar depois de Oeste revelar sua precária condição de saúde. Há uma semana, entretanto, foi condenado a 14 anos, e Alexandre de Moraes mandou prendê-lo. 

Ao saber que policiais estavam na porta da sua casa para devolvê-lo ao cárcere, Junkes sofreu um infarto e precisou ser hospitalizado. As graves doenças que enfrenta o obrigam a usar fraldas geriátricas e uma sonda para conseguir urinar.

Além da feroz perseguição a pipoqueiros, vendedores de picolés, motoboys, donas de casa e cabeleireiras, os brasileiros que pagam impostos e cumprem a lei agora são obrigados a conviver com o cerco aos pais que escolhem não vacinar os filhos com idade entre 6 meses e 5 anos contra a covid-19. Nem sequer a Organização Mundial da Saúde recomenda a vacinação para crianças saudáveis, mas o governo Lula incluiu o imunizante no Programa Nacional de Imunização (PNI), conta a repórter Loriane Comeli.

Esse de horrores agora inclui o estímulo à delação vergonhosa, que surgiu durante a pandemia e ameaça perpetuar-se nessas paragens. Dezenas de famílias viraram alvo da caçada promovida pelo Ministério Público e por conselhos tutelares, com base em denúncias de escolas que exigiam a carteira de vacinação da criança. Decididamente, no Brasil o ado não a.

Boa leitura.

Branca Nunes,

Diretora de Redação

Capa da Revista Oeste, edição 263. Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), e Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados, no plenário do STF, em Brasília (3/2/2025) | Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo
6 comentários
  1. Carlos Henrique Soares
    Carlos Henrique Soares

    Fica cada vez mais evidente que Hugo Motta está se alinhando ou já se aliou ao lado mais podre do sistema!

  2. Erasmo Silvestre da Silva
    Erasmo Silvestre da Silva

    Esse Mota é um bandido igual aos esquerdistas todos

  3. Marcio Bambirra Santos
    Marcio Bambirra Santos

    Ótimo número da Oeste. Jornalistas e articulistas renomados. Matérias imperdíveis.

  4. Vitor Hugo Stepansky
    Vitor Hugo Stepansky

    Vacina obrigatório em crianças só as testadas e comprovadas sua eficiente. E o livre arbítrio dos pais. Autoritarismo a brasileira. Ninguém mais raciocina

  5. Luiz Antônio Alves
    Luiz Antônio Alves

    Tá bom Dona Branca. Depois a tarde vamos ler os artigos. Tenho interesse na cobertura sobre o Trump. Tenho posições diferentes ao que é divulgado na imprensa. Aqui não é o lugar para o leitor expor teses. Trump quer redução das tarifas quando em engociação com os parceiros. O confronto com o louco protecionismo de alguns países merece reflexão mais profunda. Ninguém quer falar em rezuri, embora tenham tarifas mais altas do que as dos EUA. Reduzindo tarifas, a inflação cai na média global. O supervalorizdo dólar também cai e deverá girar em níveis mais justos. Vejo tudo ao contrário.

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