No julgamento sobre censura na internet, o ministro do Supremo André Mendonça, num voto que precisou de dois dias para ser lido, pronunciou uma aula magna sobre liberdade, ordem institucional e democracia. Escolheram para retomar o julgamento de recursos contra o artigo 19 do Marco Civil da Internet o dia 4 de junho. Há 36 anos, num 4 de junho, na Praça da Paz Celestial, o Exército Chinês massacrava o povo que queria liberdade de expressão. Na mesma Pequim onde Lula e Janja pediram a Xi Jinping o envio de “uma pessoa de confiança” para ensinar às autoridades brasileiras como se censuram as redes sociais. Janja, segundo testemunha, explicou que é porque a direita tem mais presença nas redes. Na sessão do Supremo do dia 4 de junho, o ministro Barroso citou a comunista alemã Rosa Luxemburgo: “Liberdade é sempre a de quem pensa diferente”. Não é o que pensa o presidente do Brasil. Para Lula, os que pensam diferente têm que ser presos.
Foi o que Lula revelou na recente convenção do Partido Socialista, ao se queixar: “Os Estados Unidos querem processar o Alexandre de Moraes porque ele está querendo prender um cara brasileiro que está lá nos Estados Unidos fazendo coisa contra o Brasil o dia inteiro”. Referia-se ao jornalista Allan dos Santos. Ora, quem não concorda com Allan não o vê, não o segue. Mas Allan está num país que reconhece e pratica o princípio de que liberdade de expressão é pedra de toque da democracia. Aqui, nossa Constituição considera a liberdade de expressão cláusula pétrea, ou seja, nem o Congresso pode modificar o artigo 5º. “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.” Não diz “salvo se”, que tampouco está no artigo 53, que garante a inviolabilidade de deputados e senadores por quaisquer palavras.
A censura é o objetivo de todos os totalitários. Primeiro, censuram as palavras; a consequência é censurar o pensamento; e a liberdade, então, estará censurada. Tudo fica relativo, como na “democracia relativa” da Venezuela bolivariana. Vale qualquer pretexto, como faziam os tribunais na Alemanha de Hitler e na União Soviética de Stalin, onde as pessoas já estavam condenadas antes dos julgamentos, que só serviam como ritual, na tentativa de mostrar que um processo kafkiano é um processo justo. O terrível, numa situação assim, é o silêncio dos censuráveis, que agem como ovelhas indo ivamente para a tosquia. A lã das ovelhas estará crescida no ano seguinte, mas a liberdade perdida só renascerá se os servos aprenderem a agir como cidadãos.

O totalitarismo aboliu a liberdade de pensamento em um grau jamais visto. Ele não apenas proíbe que você se expresse, mas dita o que você deve pensar, cria uma ideologia para impor a você, tenta governar sua vida emocional, além de estabelecer um código de conduta. Na medida do possível, ele isola você do mundo, o fecha em um universo artificial em que você não tem padrões de comparação. Na verdade, esse período anterior deveria vir entre aspas, mas eu queria que você, leitor, fosse livre para pensar que essa seria uma conclusão minha, sobre a atualidade brasileira. Na verdade, isso foi dito na BBC, em Londres, por George Orwell, em 1941! Imagino que ele se referia à Europa com Stalin, Hitler e Mussolini. Quanta semelhança com o mundo woke de hoje e com nosso Brasil…
São tempos em que o Supremo decide modificar uma lei que foi discutida pelo Congresso com a nação por três anos. A Lei nº 12.965 foi sancionada por Dilma em 2014. Depois de dez anos em vigor, surgiu, em véspera de ano eleitoral, o desejo de obrigar as plataformas a irem além das regras já existentes, que evitam pornografia, pedofilia, imagens obscenas. Mas insistem que é preciso combater a desinformação. Ora, combate-se a desinformação não dando audiência ao desinformador, assim como ao odiento — ademais, rotular de desinformação é muito subjetivo, pois pode se tratar apenas de uma informação com a qual não se concorde. Paradoxalmente, os que dizem combater a desinformação alegam que é para proteger direitos fundamentais. Ora, um dos direitos mais fundamentais é a liberdade de expressão.

O Supremo, a despeito da lição contida no voto de André Mendonça, vai dizer que o que o Legislativo decidiu, no artigo 19, é inconstitucional. Pode o STF redigir outro artigo? André Mendonça ensinou que só o Legislativo tem poder para redigir leis. E como responsabilizar as plataformas? Tornando-as censoras? Se alguém duvidar da Justiça Eleitoral, é crime? Mas não é crime nem duvidar de Deus — como lembrou André Mendonça. Ter a responsabilidade de censurar o que julgam mentira ou discurso de ódio? Se já é impossível identificar quem chama o juiz de ladrão num estádio lotado, será impossível tarefa humana fiscalizar bilhões de postagens diárias. Um robô vai decidir? A pedra angular da democracia e da humanidade, a liberdade de expressão, será entregue a uma máquina?
Orwell, no seu 1984, previa para aquele ano, em ficção, o totalitarismo mudando significados: “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”. No século seguinte, nos anos 2020, no Brasil se procura implantar novas verdades: manifestação popular é golpe; crítica é ato antidemocrático; opinião contrária é fake news; contrapor-se a uma esquerdista é misoginia, a um esquerdista é fascismo. E censura é liberdade.
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Alexandre Garcia sempre brilhante.
Sem liberdade não somos povo, somos manada.
Não podemos nos render aos anseios ditatoriais da quadrilha que arrebatou o país dos verdadeiros donos do poder que é o povo.
Excelente texto. Os togados tiranos deveriam ler. Voto do Mendonça umum primor.
Hoje nem se pode mais reclamar de um juiz parcial em uma partida de futebol. Afinal de contas, juiz do órgão máximo declara para todo mundo ouvir que derrotou um candidato, por que um mero juiz de futebol também não pode derrotar um time?
O país está ao avesso!
Maravilhoso, Alexandre! Uma honra lê-lo!
Brilhante. Brilhante reflexão, Alexandre.
A nossa realidade seria cômica se não fosse trágica, concorda?
Muito bem percebido. 👏
se aprofundarmos o assunto, a vivo, claro, teem e alguns canais de televisão também serão alvo de censura e taxadas notícias de fake news. As redes sociais funcionam através de celular que tem autorização de alguma empresa para ar algum número. Muistos golpes não precisam de rede socia… veja o pix. Voltaremos ao telefone fixo?
Parabéns Alexandre. Vocês velhos jornalistas que conviveram com aqueles que ainda dirigem a velha e decadente imprensa, não conseguem traze-los para uma reflexão sobre o atual regime que vivemos? E a ABI que tanto se manifestou no ado para combater ditaduras, só tem velhos jornalistas comunistas e jovens jornalistas formados pela esquerda universitária?.
Penso que você, J.R. GUZZO, AUGUSTO NUNES, SERRÃO e jovens como SILVIO NAVARRO, PIOTTO, ANA PAULA, RODRIGO CONSTANTINO, poderiam envolve-los para salvar nossa verdadeira democracia.
Cadê o áudio? Não está funcionando.
perfeito
Excelente texto!!!
Mesmo diante de uma análise lógica e irretocável, partilhada por mais de metade da população, o Congresso e os congressistas se mantém vergonhosamente silentes. E, quem cala, consente. Assim o soviete supremo vai comendo a Liberdade pelas beiradas.
Um governo bandido ladrão com as vísceras expostas e uma justiça paradoxal é o que estamos vivendo
EXCELENTE ANALISE !!!
VEJAM A GLOBO CONCORDA COM A ACONVERSA DO LULA COM A CHINA – ONDE ESTA NOSSA IMPRENSA ATIVA E ALTIVA.
HOJE A VELHA IMPRENSA VIVE DE NOTICIAS FABRICADAS PELO GOVERNO PARA PODER ABOCANHAR O DINHEIRO DO GOVERNO
(CONTRIBUINTES).
Excelente texto!