Em 6 de setembro de 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro, candidato à Presidência da República, foi esfaqueado durante um ato de campanha na cidade mineira de Juiz de Fora. A perfuração do intestino delgado, do fígado e do pulmão causou uma hemorragia interna, seguida de choque hipovolêmico — essa expressão se aplica quando há uma redução significativa do volume sanguíneo, impedindo o coração de bombear sangue suficiente para o funcionamento normal do organismo.
Cerca de cinco anos depois, em Quito, o jornalista Fernando Villavicencio, candidato à Presidência do Equador, foi assassinado com três tiros na cabeça ao sair de um comício, a 11 dias da eleição. Haveria um número maior de vítimas se uma granada lançada em sua direção tivesse explodido.
Em 13 de julho de 2024, Donald Trump, candidato à Presidência dos Estados Unidos, sofreu um atentado em sua agem pela Pensilvânia. Tiros disparados por um rifle AR‑15 atingiram sua orelha direita. Houve uma morte, e duas pessoas ficaram gravemente feridas.

Neste 7 de junho, foi a vez do senador Miguel Uribe Turbay, candidato à Presidência da Colômbia. Em campanha num bairro de Bogotá, Uribe foi baleado na cabeça e na perna por um atirador de 15 anos. Internado em estado crítico, foi submetido a uma neurocirurgia de emergência e continuava hospitalizado no fim da semana.
Além de alvejarem candidatos à presidência, o que mais têm em comum os quatro casos? Todas as vítimas eram representantes da direita democrática ou enfrentavam adversários ligados à esquerda radical.
Neste século, como ocorreu no anterior, militantes da esquerda evitam com preocupante frequência enfrentar os adversários nas urnas. Preferem o duelo nas ruas — como propôs José Dirceu em 2000, quando o PT tentava impedir a reeleição do governador paulista Mário Covas. Enquanto professores em greve cercavam o inimigo que enfrentava um câncer em estágio avançado, o deputado José Dirceu, presidente do PT, formulava no palanque a palavra de ordem: “Eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas”.
“A polarização levou à desumanização do opositor”, afirma o jornalista Leonardo Coutinho, diretor-executivo do Center for a Secure Free Society, com sede em Washington. “O adversário a a ser chamado de fascista, genocida, gado, rato. Não há nada mais desumanizador do que transformar o oponente em animal. Isso gera uma instabilidade emocional muito forte e permite que quem ataca acredite estar fazendo o bem ao combater o mal.”
Coutinho ressalta que Trump é apresentado pela imprensa como o maior perigo que ronda a democracia. Propagaram a ideia de que, se eleito, ele daria um golpe de Estado e agiria como um imperador. “Muita gente séria acreditou nisso”, conta. “Alguns recorrem à violência por não arem a ideia de serem governados por alguém que veem como o inimigo, o vilão.” Coutinho cita o caso do adolescente Nikita Casap, de 17 anos, que assassinou a própria família em abril deste ano. Ele tentava conseguir dinheiro para matar Donald Trump e provocar uma revolução política nos EUA.
Na América Latina, soma-se outro fator: a confluência de interesses com o crime organizado. No caso de Villavicencio, a organização criminosa Los Lobos assumiu a autoria do atentado. Formada por dissidentes do grupo Los Choneros, Los Lobos tem cerca de 8 mil membros e já ocupa o segundo lugar no ranking das facções mais temidas do Equador.
Segundo reportagem da CNN, a Los Lobos está ligada diretamente à escalada de violência que assola o país. Seus integrantes se valem de massacres em prisões, uso de carros-bomba, ataques à polícia e exibição pública de cadáveres enforcados em pontes. A principal fonte de receita é o transporte de cocaína colombiana pelos portos equatorianos com destino aos Estados Unidos e à Europa.

Na Colômbia, a promiscuidade entre a política e o narcotráfico é antiga. Com a ajuda dos EUA, Álvaro Uribe, que presidiu o país entre 2002 e 2010, enfrentou os cartéis com inédita dureza. Depois de uma série de governantes permissivos, Gustavo Petro assumiu o poder em agosto de 2022 como o primeiro militante de esquerda a chegar ao cargo.
Petro foi guerrilheiro do M‑19, grupo nacionalista de extrema esquerda que atuou no país entre 1970 e 1990. Diferentemente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que sobreviviam enfurnadas na selva, o M-19 agia nas cidades. Depois do atentado a Miguel Uribe Turbay, Petro disse torcer pela sobrevivência da vítima e manifestou sua solidariedade ao agressor. “A vida da vítima — que está em boas mãos e nas quais confiamos — e a vida do assassino, que é um menor de idade, uma criança”, declarou. “As leis e as normas nos obrigam a proteger a criança por ser criança, porque, se não cuidarmos das crianças da pátria, não teremos pátria.”
“A atuação do crime organizado nesses atentados muitas vezes é indireta”, diz Coutinho. “O que existe é uma preferência política por parte das facções. Governos de esquerda tendem a ser menos letais, mais complacentes com criminosos. O de Petro, por exemplo, foi muito bom para esses grupos por ser negligente no combate ao crime organizado. A direita incomoda mais os criminosos. Isso é notório.”
O atentado a Miguel Uribe repercutiu mundialmente. Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, por exemplo, escreveu na rede social X que o ataque foi “resultado da violenta retórica esquerdista vinda dos mais altos níveis do governo colombiano”. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, lembrou a facada em Jair Bolsonaro e classificou o episódio como “um ataque à liberdade, à democracia e àqueles que têm coragem para se posicionar”. Para o senador Flávio Bolsonaro, “a esquerda, onde quer que atue, mostra seu verdadeiro rosto: violento, intolerante e, muitas vezes, assassino”.

Embora atentados políticos não sejam exclusividade da direita, o cenário atual é assimétrico. No Brasil, o ódio ao adversário subiu alguns patamares desde a ascensão de Bolsonaro. “Por causa da loucura da polarização, temos hoje intelectuais e jornalistas defendendo a censura”, observa Coutinho. “A Constituição recebeu mil e uma interpretações por aqueles que teriam a função de defendê-la. Quando derrotados no Congresso, partidos sem voto recorrem ao STF, ganham no tapetão, e a plateia aplaude.” Com isso, uma série de casos excepcionais vira regra.
De atentado em atentado, de exceção em exceção, a democracia segue sangrando. Ninguém pode prever quando um desses golpes se tornará fatal.
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Ótimo artigo de Branca Nunes, a esquerda não apenas na América Latina tem a característica de destruir,mas no mundo todo, nunca vem de fato com boas intenções. Na América Latina vem intimamente ligada ao narcotráfico, não produz nada,apenas a destruição e a desgraça. Só observarmos a população vulnerável de países lenientes com o crime É caos e vidas destruídas.