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Edição 273

Inflação corrói poder de compra do brasileiro e varejo sofre

E mais: o turismo de saúde no Brasil, a Embraer em Paris, as franquias em expansão, a safra agrícola recorde e a tragédia do IOF

A inflação brasileira, que continua superando a meta, e os juros, que não param de subir, estão começando a afetar o setor de varejo. Segundo dados do IBGE, as vendas no varejo ampliado em abril caíram 1,9% em relação a março. Uma contração maior do que o esperado pelo mercado, que previa queda de 1,5%.

Outro índice, dessa vez de uma empresa particular, mostrou um resultado muito parecido. O Índice do Varejo Stone (IVS), calculado pela fintech, registrou uma queda de 0,1% nas vendas do comércio brasileiro em maio na comparação com abril.

Em comparação ao mesmo mês do ano anterior, a queda foi ainda maior, de 0,5%. O maior afetado foi o comércio digital, que recuou 3,1% em maio, enquanto o físico cresceu 0,5%.

Inflação continua superando a meta, e os juros, que não param de subir, estão começando a afetar o setor de varejo | Foto: Shutterstock

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Mercado preocupado com Banco do Brasil

O balanço do Banco do Brasil está deixando muita gente preocupada na Faria Lima.

Segundo analistas de diferentes instituições financeiras, após um primeiro trimestre desastroso, com uma redução de 20% no lucro, o Banco do Brasil deverá enfrentar uma queda expressiva de seus resultados em 2025 e em 2026. O Itaú BBA prevê que essas contrações deverão ser, respectivamente, de 33% e 24%.

A inadimplência do agronegócio está aumentando, mas o que preocupa os especialistas é o aumento dos calotes também em outros setores, como varejo e corporativo.

Por isso, o Banco do Brasil estaria acumulando provisões sobre créditos duvidosos, a fim de se preparar para o pior dos cenários.

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Bolsa brasileira com tecnologia britânica

A holding controladora da Bolsa de Valores de Londres vai fornecer tecnologia para a A5X, a nova bolsa de valores de derivativos e futuros que está sendo criada no Brasil.

O London Stock Exchange Group (LSEG) fornecerá um conjunto de tecnologia de infraestrutura de mercado integrada para as operações de negociação e pós-negociação.

A A5X deverá terminar os testes regulatórios até o quarto trimestre deste ano e prevê lançamento comercial da nova plataforma no primeiro semestre de 2026.

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Brasil, um polo do turismo de saúde

Segundo dados da consultoria Brain, o segmento de turismo hospitalar movimentará cerca de US$ 13 bilhões (cerca de R$ 70 bilhões) no Brasil até 2030.

Somente no Estado de São Paulo, que concentra grandes infraestruturas hospitalares de ponta, cerca de 12% dos turistas chegam buscando tratamentos médicos.

A demanda por serviços médicos é tão elevada que as áreas em torno dos grandes hospitais estão recebendo investimentos para atender às demandas dos pacientes.

É o caso do Parque Global, o maior bairro planejado da América Latina, que contará com um centro — de 40 mil metros quadrados — de oncologia e hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, e com o V3rso, o primeiro hotel butique do Brasil integrado a um hospital de referência com a marca Emiliano.

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Embraer pode brilhar em Paris

O Paris Air Show, um dos eventos mais importantes do mundo da indústria aeroespacial, poderia se transformar em um triunfo para a Embraer.

Para a fabricante brasileira de aviões, o evento realizado em Le Bourget, nos arredores da capital sa, poderá se transformar em um ponto de virada, graças à chance de adicionar novos pedidos à sua carteira.

Todavia, nos shows aeronáuticos do ado, como o Farnborough Air Show de 2024, a Embraer anunciou poucos avanços. Os analistas já estão com os holofotes apontados.

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Franquias crescem no Brasil

O setor de franquias no Brasil cresceu 8,9% no primeiro trimestre de 2025, chegando a faturar R$ 65,967 bilhões.

Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), o segmento de Limpeza e Conservação liderou o crescimento entre os setores, com alta de 16,3%.

Em seguida, vieram Saúde, Beleza e Bem-Estar (14,9%); Hotelaria e Turismo (14,7%); e Alimentação — Food Service (13,7%). 

No acumulado dos 12 meses encerrados em março de 2025, também foi registrada uma alta de 11,2% no faturamento do setor, que alcançou R$ 278,49 bilhões.

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Mais crédito, por favor

As empresas brasileiras estão demandando mais crédito. Especialmente as de médio porte.

Segundo dados do Indicador de Demanda das Empresas por Crédito, da Serasa Experian, esse grupo apresentou alta de 2,2% na comparação com o mesmo mês do ano ado, contribuindo para o avanço de 0,9% na procura por crédito do total das empresas.

Quase todos os setores econômicos apresentaram alta, menos o de comércio, que registrou contração de 2,2%.

As empresas brasileiras estão demandando mais crédito | Foto: Shutterstock

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Portos movimentados

A movimentação portuária no Brasil registrou dois recordes seguidos: em abril e no acumulado do ano.

Segundo dados do Estatístico Aquaviário (EA), da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o crescimento em abril de 2025 na comparação com abril de 2024 foi de 1,12%, com 107,6 milhões de toneladas de cargas ao todo.

De acordo com o Ministério de Portos e Aeroportos, este foi o melhor abril da série histórica. E, nos primeiros quatro meses do ano, a movimentação alcançou 412 milhões de toneladas.

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Safra recorde à vista

A safra agrícola de 2025 promete ótimos resultados.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra agrícola de 2025 deve totalizar um recorde de 332,6 milhões de toneladas. Uma alta de 13,6% na comparação com o ano ado, ou 39,9 milhões de toneladas a mais.

O Brasil deve colher neste ano mais soja, milho, algodão, sorgo, trigo, arroz e feijão. Se confirmadas as projeções, a colheita será recorde para a soja e para o algodão.

Conforme o IBGE, a área a ser colhida na safra agrícola de 2025 deve totalizar 81,2 milhões de hectares, 2,1 milhões de hectares a mais que em 2024, um aumento de 2,7%.

A safra agrícola de 2025 promete ótimos resultados | Foto: Shutterstock

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Novo decreto sobre IOF é uma tragédia, diz economista-chefe da CNC

A decisão do governo Lula de publicar uma nova medida provisória com a criação de novos impostos sobre uma série de aplicações financeiras e operações de crédito, para compensar o aumento do Imposto sobre as Operações Financeiras (IOF), caiu como uma bomba entre os empresários brasileiros.

Para Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), isso tudo “é uma tragédia” que terá “efeitos dramáticos” se não forem aportadas mudanças no texto.

Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) | Foto: Arquivo Pessoal

“O governo está desesperado em tentar arrumar um jeito de fechar as contas públicas. Mas um decreto publicado dessa forma terá um impacto devastador em muitos setores econômicos. E o drama é que parece que ninguém na Fazenda calculou isso”, diz Tavares.

Segundo ele, o aumento dos impostos sobre investimentos e produtos financeiros, além de operações comerciais como o risco sacado, desorganizará parcialmente o setor e desincentivará a poupança de longo prazo. “Exatamente aquilo de que o Brasil mais precisa para financiar suas empresas”, explica o economista.

Confira os melhores trechos da entrevista exclusiva de Felipe Tavares a Oeste.

Qual é o humor dos associados da CNC após esse segundo decreto?

Estão achando tudo isso um pesadelo. Um filme de horror que parece não ter fim. Muitos empresários estão seriamente preocupados com os impactos desse decreto em seus negócios. Há temores de empresas que não aguentarão e serão obrigadas a fechar as portas.

O governo apresentou esse novo documento para aumentar impostos, com impacto sobre uma série de aplicações financeiras e de investimentos. E corre o sério risco de ser derrubado no Congresso. O que está acontecendo em Brasília?

O principal problema é que o governo tem o desafio de fechar as contas públicas. Mas não tem nenhum incentivo, nenhuma disposição, nenhuma vontade de cortar na carne. O Planalto quer os recursos das emendas, que consomem 25% dos gastos discricionários, e as colocou como fonte de compensação de outros gastos, coisa que o Legislativo não quer. Por isso, foi forçado a buscar outras fontes de receitas. Essa busca eterna de recursos por parte do governo vem daí. Uma tentativa de tributar investidores, alegando que a Faria Lima joga contra o país, que é necessário perseguir objetivos sociais. É a mesma retórica e os mesmos termos que eles sempre usam. No fundo, é uma clara tentativa de pressionar o Legislativo. Mas o grande problema é que falta uma assessoria técnica que possa explicar as tendências e o teor das bombas que estão sendo negociadas. É um ponto problemático.

O governo quer tributar as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Industrial (LCI). Quais serão as consequências disso?

Vai ser uma tragédia. As fontes de financiamento mais ível para o agro e para a indústria secarão. Muitas empresas não conseguirão sobreviver. Lembrando que já temos algo muito atípico no setor de crédito para o agronegócio, que é uma concentração fora do padrão no Banco do Brasil, que hoje possui mais de 60% de todos os empréstimos concedidos para empresas do setor. Quase um monopolista. Essa carteira foi piorada por decisões da atual gestão. O banco terá que repensar seu posicionamento. Por consequência, terá que reduzir sua concessão de crédito. Teremos um monopólio que não quer emprestar porque fez besteira. Portanto, com as LCAs taxadas, e sem o Banco do Brasil errogando recursos, todas as fontes de crédito para o agronegócio acabarão esmagadas.

Qual será o impacto disso sobre o mercado de crédito?

No Brasil, fizemos opções que não são muito parecidas com as desses países que estão sendo citados pelo governo como modelo de imposição tributária. Temos um problema de poupança e resolvemos criar fontes de arrecadação de recursos para tentar fomentar crédito. Agora o governo decide criar impostos sobre esse tipo de operação, desincentivando a poupança e, portanto, reduzindo o crédito disponível. Tudo na base de uma narrativa malfeita. Ao mudarmos as regras dessa forma, estamos piorando todo o quadro de nossa economia. Além de criar uma profunda incerteza jurídica entre os investidores, tanto brasileiros quanto estrangeiros.

Por que o governo insiste tanto na taxação do risco sacado?

Estão buscando recursos desesperadamente. Não especificamente no risco sacado. Eles querem taxar qualquer operação financeira ou não financeira que não seja tributada. E é o caso do risco sacado, até hoje isento. O risco sacado tem uma particularidade: não é uma operação de crédito, e sim uma operação mercantil. Portanto, aplicar IOF sobre esse tipo de transação acaba afetando negativamente a competitividade do varejo brasileiro. É necessária muita criatividade jurídica para interpretar essa operação como de crédito, e não como mercantil. Um imposto de 0,5%, 1,5% ou 2% sobre esse tipo de transação pode parecer uma porcentagem pequena, mas é um golpe no coração do negócio, o que afeta todo o resto. Isso acaba incidindo em operações de 30 a 45 dias, até o máximo de 90 dias. Algo recorrente. E esse imposto recai sobre cada uma dessas operações. Ou seja, vira uma bola de neve. Um efeito transversal que capitaliza o IOF com um impacto geral.

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