Esta coluna sobre economia e política do Brasil começa, veja só, no Supremo Tribunal Federal. Não era para ser assim. Mas, neste caso, não vou insistir em citar nenhuma das decisões do STF, o órgão de Estado que se colocou acima de todos e que tem segurado o governo Lula, hoje um estorvo para o país. Limito-me ao áudio revelado pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, no julgamento da alegada e cada vez mais insustentável “trama do golpe”, de uma conversa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, em que ele diz que Bolsonaro não tinha nenhuma intenção de levar adiante qualquer contestação ao resultado da eleição de 2022. E que, segundo o ex-presidente, o governo Lula cairia “de podre”.
De um lado, o áudio do principal delator, que fez onze delações, abusa das vezes em que se desdiz, é impreciso ou sem memória (“não me lembro”) — impondo flagrante nulidade à delação —, torna ainda mais precária a acusação da tese movida pelo ministro Alexandre de Moraes, dono dos inquéritos que levaram o ex-presidente e vários de seus auxiliares a julgamento na Primeira Turma da Corte. E, sob outro ponto de vista, teria previsto com enorme acurácia o que de fato acontece com a terceira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um desgoverno em si ou um governo apenas para os seus. Fato é que o Lula que parte da elite financeira da Faria Lima, acadêmica e artística comprou nunca existiu. O “Lulinha Paz e Amor” era um boneco da publicidade enganosa de Duda Mendonça; e a gestão fiscalmente responsável do primeiro mandato era só o pragmatismo de Antonio Palocci, o então poderoso ministro da Fazenda. Nada disso mais está próximo do presidente, tampouco a China crescendo 15% ao ano, no seu segundo mandato. O Lula que voltou é amargo, vingativo e rodeado, por escolha apenas dele, de assessores beija-mão e feitos a sua imagem e semelhança para não ser contrariado. Não existe voz sensata que tenha ascendência sobre o presidente. O resultado está aí: uma mistura de gastança irresponsável de Dilma Rousseff com o deslumbre novo rico de Janja, cuja presença constante no Palácio do Planalto se tornou um problema interno no governo e externo para o país.
Trata-se de uma química explosiva. E o Brasil inteiro sente isso na própria pele, na inflação estampada nas gôndolas dos mercados e nas feiras, no aumento incessante de impostos para cobrir rombos fiscais que voltaram com esse governo de gênese perdulária e completa irresponsabilidade com as contas públicas. Contas públicas são as de todos nós, as dos pagadores de impostos, que o atual governo destrata, além de postergar às próximas gerações uma dívida que elas não fizeram. A dívida de hoje será paga pelos que vierem. É injusto, como já dizia o ministro da Economia Paulo Guedes, durante a gestão Bolsonaro, na sua saga por reduzir os gastos da máquina governamental e trazer eficiência ao gasto público. Não por acaso, entregou o país, mesmo com a pandemia, com um superávit primário de R$ 54 bilhões em dezembro de 2022. Não surpreende que, nas pesquisas atuais, os jovens tenham acordado e começado a desembarcar do apoio ao governo atual.

Fato é que a vida nacional sob Lula 3 voltou a conviver com escândalos e istração pública movida à já conhecida ineficiência e corrupção da esquerda latino-americana, ainda pior na sua versão petista. Seja a roubalheira de aposentados do INSS com o envolvimento de sindicatos ligados ao PT — um deles comandado pelo irmão de Lula —, a tentativa frustrada do “Arrozão”, os cabides de emprego, seja os novos déficits das estatais, que haviam sido saneadas de influência política e má gestão. A vida brasileira, que experimentou por alguns anos uma mudança paradigmática de governos com austeridade fiscal, gestão moderna, liberdade econômica e segurança jurídica, além da Lava Jato (que havia expurgado a corrupção de alto escalão), hoje convive com retrocessos em praticamente tudo. E uma crise institucional sem precedentes.
Já escrevi aqui que, em condições normais de temperatura e pressão, Lula já estaria provavelmente respondendo a um processo de impeachment. Não está pela parceria de consórcio governamental que já não esconde ter com o Supremo Tribunal Federal, hoje dedicado, veja só, a duas pautas que interessam a Lula: o julgamento do tal golpe (que não existiu) que pode prender Jair Bolsonaro, numa perseguição cada vez mais evidente à direita brasileira e tudo que se opõe politicamente ao governo federal; e o controle das redes sociais, as que permitem o debate livre e expõem a indecência istrativa de um Lula rodeado por escândalos e gastanças, os abusos contra a Constituição pela Corte maior e os deslumbres de uma primeira-dama cujo estilo afronta o cargo já ocupado por Ruth Cardoso e Michelle Bolsonaro. A esposa de Fernando Henrique Cardoso conduziu o programa Comunidade Solidariedade, de combate à extrema pobreza. A mulher de Jair Bolsonaro trouxe à luz uma multidão de brasileiros esquecidos e que precisavam apenas de intérpretes da linguagem de sinais para serem inseridos. Hoje, estão.
De um país de liberdades, maior ibilidade e recuperação econômica, tornamo-nos uma nação com presos políticos, de perseguição ideológica pelo aparato estatal, de volta da censura e de um Supremo que reescreve a Constituição e atropela o Congresso e a sociedade. E sob um governo cuja marca será a do maior endividamento da história recente do país sem entregar melhoria de vida à população. Ao contrário, que derrete nas pesquisas de opinião porque cada vez mais gente se interessa e acompanha a política acreditando nos seus próprios olhos. É a autonomia política de cidadãos bem informados que incomoda os atuais donos do poder.
Não são apenas agentes de mercado ou especialistas que veem o atual governo naufragando pela arrogância de Lula e inépcia do ministro da Fazenda Fernando Haddad, que outro dia, durante audiência na Câmara, em vez de responder ao que lhe tinha sido perguntado, dirigindo-se à população, decidiu ofender deputados da oposição. Deputados são representantes do povo, ministro. A resposta tinha de ser dada aos brasileiros, os mesmos que têm tentado sobreviver e driblar a realidade imposta de um governo que já acabou, mas que precisa terminar. Por isso que as eleições de 2026 são uma realidade agora, em 2025.

E, como tudo o que é muito ruim ainda pode piorar, antes que a eleição do ano que vem chegue, o governo dobrou a aposta no aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que deveria ser apenas regulatório, não fonte de arrecadação. Mal recebido, apresentou um pacote alternativo que insiste no erro de aumentar impostos para continuar gastando mal. É Taxxad na sua essência mais caricata.
A recente proposta do Ministério da Fazenda é um exemplo da incompetência istrativa e do vício em gastar. Quer trocar a arrecadação do IOF por mais arrecadação de outras fontes. Só isso. Troca um imposto por outros. Uma das medidas mais estapafúrdias é tributar as LCI e LCA. Letras de Crédito Imobiliário e Letras de Crédito Agrícola são financiamentos hoje isentos de Imposto de Renda porque financiam a expansão da construção civil, que gera empregos e, portanto, reduz o custo do governo com desempregados, além de movimentar uma enorme indústria que recolhe impostos porque produz. E o agronegócio, que coloca o Brasil no topo da geopolítica como indispensável potência alimentar, garante superávit na balança comercial ao exportar o enorme excedente de alimentos que produzimos aqui. Ao exportar muito, segura o câmbio com entrada de dólares; por conseguinte, controla a inflação de forma orgânica, saudável. Quem será que teve uma ideia tão ruim assim?
As outras medidas vão no mesmo sentido: aumento de impostos e arrecadação a qualquer custo. Nenhuma medida de redução de gastos, de enxugamento da máquina pública, de eficiência istrativa. O Congresso já deu sinais explícitos de que, desta vez, não dá mais para tentar fechar as contas apenas com arrecadação. Em que pese a estratégia de liberação das emendas alucinógenas, as que permitiram a esse mesmo Congresso ser conivente com o atual governo até aqui, alguns limites aparecem no horizonte. A eleição de 2026 é uma realidade. E o manual de sobrevivência política de Brasília não prevê abraço em quem está afundando. A reprovação e a rejeição a Lula só aumentam a cada rodada de pesquisa, independentemente do instituto. Todo mundo está vendo.
Diante de mais uma viagem pífia ao exterior, quando ouviu um sonoro “não” de seu único aliado europeu, um decadente Emmanuel Macron, sobre a França ceder para o acordo Mercosul-União Europeia avançar, Lula demonstra não ter mais relevância, o que fragiliza a diplomacia em tempos em que negociar é cada vez mais preciso. Sem interlocução internacional de qualidade, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa conectada com a realidade, e internamente sem apoio, o governo de Lula 3 agoniza por completa ausência de boas ideias e gente boa de serviço. Como permanece só porque está ancorado no Supremo, é preciso salvar o Brasil. Mas isso requer que mais gente se exponha no debate. E não apenas os brasileiros que já foram às ruas por várias vezes em defesa da democracia de verdade e da Constituição. É preciso que os membros da elite intelectual e econômica, que voltaram a acreditar em Lula na última eleição, se permitam o calor do asfalto e a poeira do estradão. Vai fazer bem a eles e também ao país. Afinal, é onde o Brasil acontece.
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Simples: Cairá de podre!